Vivemos num tempo em que a transformação digital se apresenta não apenas como uma tendência, mas como uma inevitabilidade. A transição digital é hoje uma prioridade no setor educativo, desempenhando um papel central na preparação das novas gerações para os desafios do futuro. Em Portugal, a implementação desta transição, embora urgente e necessária, enfrenta desafios que exigem uma abordagem estratégica, inclusiva e sustentável.
A transição digital nas escolas não se limita à substituição de livros por computadores ou à utilização esporádica de plataformas digitais. É, antes, um processo profundo que exige uma reestruturação do ensino e da aprendizagem. Tal como defendido nos referenciais europeus, a digitalização educativa deve focar-se na criação de ambientes de aprendizagem dinâmicos, interativos e colaborativos, potenciando as competências digitais dos alunos e professores, e preparando-os para um mercado de trabalho cada vez mais exigente e globalizado.
A importância deste processo reside na sua capacidade de democratizar o acesso ao conhecimento. Através da digitalização, os recursos educativos tornam-se mais acessíveis, permitindo que todos os alunos, independentemente do seu contexto socioeconómico ou geográfico, possam usufruir de aprendizagens de qualidade. Outro aspeto importante é fomentar competências transversais através de ferramentas digitais, pois estas promovem a autonomia, a resolução de problemas, a criatividade e a comunicação, competências fundamentais para enfrentar os desafios do século XXI. A promoção da inovação pedagógica, no que respeita à utilização de metodologias ativas e plataformas digitais transforma o papel do professor e do aluno, potenciando a personalização das aprendizagens e o envolvimento de todos no processo educativo.
Contudo, a transição digital enfrenta desafios que devem ser debatidos e resolvidos com celeridade. A resistência à mudança, a falta de motivação de alguns professores, os recursos tecnológicos por vezes desatualizados e as assimetrias entre escolas constituem obstáculos significativos. Além disso, a digitalização deve ser feita com uma visão humanista, garantindo que as ferramentas tecnológicas são complementares e não substitutas da relação pedagógica essencial entre professores e alunos.
Outro desafio premente é a segurança e ética digital. Com o crescente uso das plataformas digitais, surge a necessidade de preparar os jovens para um uso consciente e responsável das tecnologias, combatendo fenómenos como o ciberbullying, a desinformação e a dependência digital.
Por fim, a transição digital exige investimento contínuo e uma estratégia de longo prazo. Não se pode encarar a digitalização como um projeto isolado; ela deve estar integrada nos Planos de Ação para o Desenvolvimento Digital das Escolas (PADDE), envolvendo todos os agentes educativos. A cooperação entre escolas, a continuidade do apoio à formação de professores e a criação de redes de partilha de práticas de referência são passos fundamentais para o sucesso deste processo.
Em suma, a transição digital não é apenas um desafio, mas uma oportunidade única para repensar a educação em Portugal, tornando-a mais equitativa, inovadora e adaptada às necessidades do futuro. A educação é o motor do desenvolvimento de qualquer país, e o sucesso da transição digital determinará, em larga medida, o lugar que Portugal ocupará no panorama global das próximas décadas.
Paulo Morais, embaixador digital do CFAE da Beira Interior